Lena queria muito que Fred fosse mais romântico, mais atencioso e parceiro. Vivia cobrando esse tipo de atitude e esperando que ele mudasse, que agisse diferente. Mas como ele não mudava, ou mudava muito pouco e somente quando ela ficava muito magoada, Lena começou a se sentir extremamente frustrada naquela relação.
Essa, entre outras situações que Lena gostaria que fossem diferentes, tanto em sua vida pessoal quanto profissional, faziam com que ela se sentisse constantemente insatisfeita e triste. Por conta dessas emoções, suas enxaquecas vinham aparecendo com frequência cada vez maior. A vida realmente não se parecia com o que ela esperava que fosse.
Denis, por sua vez, tinha a constante impressão de que as pessoas eram lentas e de que as coisas não aconteciam no ritmo que ele gostaria e que ele considerava que deveriam. Ficava inconformado ao enviar uma mensagem, por exemplo, e constatar que a pessoa havia lido, mas não respondia nos próximos 15 minutos.
Sobre o comportamento de Fátima, sua namorada, ele já não aguentava mais reclamar. Para tomar decisões, mesmo as menos importantes, ela queria tempo para pensar, analisar e decidir. Denis sentia dores fortes no estômago toda vez que brigavam e ela deixava para conversar no dia seguinte, depois que os ânimos baixassem. Ou ainda quando tinha de esperar para saber se ela iria ou não a um compromisso para o qual haviam sido convidados.
Já Sheila era a tranquilidade em pessoa, pelo menos aparentemente. Nunca discutia ou brigava seriamente com alguém. Esquecia facilmente o que faziam a ela e que a incomodava. Estava sempre disposta a relevar, desculpar e “deixar para lá”. Era conhecida como dona de um imenso coração e sempre de bem com a vida.
O fato é que ela tinha uma gigantesca dificuldade de se colocar, de expressar sentimentos considerados “feios” pela sociedade. Permitia-se demonstrar apenas alegria, compreensão e generosidade. E era somente com Luiz, seu marido, que ela desabafa, reclamava e ousava até xingar quem abusava de sua boa vontade.
Por conta dessa dinâmica “mascarada”, Sheila descontava seus sentimentos na comida. Tinha dificuldade de emagrecer e mantinha alguns outros excessos e pequenos vícios que evidenciavam a incoerência entre o que ela realmente sentia e o que ela demonstrava publicamente.
Quais são os excessos de Lena, Denis e Sheila?
Antes de explicar, preciso esclarecer: nenhum dos sentimentos deles é ruim quando experimentado numa medida saudável. O problema se instala quando deixam de flexibilizar, quando radicalizam e agem sempre da mesma forma, sem levar em conta o que está realmente acontecendo, sem respeitar o fluxo e sem considerar as particularidades do outro.
Enfim, o excesso de Lena é de expectativa. O de Denis é de ansiedade. E o Sheila é de aceitação.
Mas, veja bem! É impossível uma pessoa nunca criar expectativas. Faz parte do exercício de viver nesta dimensão. Somos seres que esperam e isso pode ser saudável à medida que abre espaço para melhorias e crescimento.
Do mesmo modo, a ansiedade é extremamente benéfica à medida em que nos impulsiona, nos coloca em movimento, faz com que desejemos algo com intensidade e entremos em ação. E a aceitação também é altamente positiva quando nos coloca no momento presente, quando nos permite perceber que existem situações que não merecem ser prolongadas e que nem tudo precisa ser levado tão à sério.
Porém, em excesso, tanto a expectativa, quanto a ansiedade e a aceitação se transformam em verdadeiros venenos, contaminando a criatividade dos relacionamentos. Ou seja, quando você espera demais do outro e deposita sobre ele toda a responsabilidade por fazer você se sentir satisfeita e feliz, está seguramente equivocada e a frustração é garantida.
Quando você se sente ansiosa sobre tudo o tempo todo, desejando que o amanhã seja hoje, acelerando seu ritmo interno e tentando fazer com que as pessoas e os acontecimentos se antecipem para apaziguar sua pressa e sua falta de paciência, o resultado só pode ser desequilíbrio e uma vida disfuncional. Viver acelerado não é biodinâmico.
Por fim, aceitar tudo sem considerar os próprios sentimentos, não constrói. Serve apenas para maquiar, deteriorar e adoecer tanto a relação consigo mesmo quanto com as demais pessoas. Excesso de aceitação rouba as oportunidades de aprendizado e troca, de amadurecimento e fortalecimentos dos vínculos.
E você, sofre de algum desses tipos de excessos? Quer recuperar o equilíbrio e encontrar a sua medida saudável? O primeiro passo é, sem dúvida, a auto-observação e o acolhimento. Em seguida, é viver um dia de cada vez, passo a passo, no ritmo da sabedoria do seu coração! Simples assim, mas, obviamente, precisa de treino! E treino diário!
E para treinar com a eficiência que vai garantir sua autorrealização nesta área tão importante, o melhor mesmo é que você saiba acessar seus recursos internos e nutrir sua autoestima constante e consistentemente. Para isso, esteja sempre atenta às técnicas que funcionam de verdade!
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Beijo grande,
Rosana Braga